terça-feira, 9 de agosto de 2011

Entendendo a toxoplasmose - desmistificando

TOXOPLASMOSE - A DOENÇA DO GATO
por Dra. Alessandra Amarante Smith Maia
A toxoplasmose é uma enfermidade com distribuição mundial. Possui importância singular, pois é uma zoonose. É conhecida como "a doença do gato" que se contaminado, poderá ser um transmissor.

Os gatos se infectam quando ingerem carne crua proveniente tanto da alimentação doméstica quanto da caça de pequenos animais como ratos e lagartixas, que podem ser portadores do Toxoplasma gondii. Ao entrar em contato pela primeira vez com o parasita, o gato produz a forma contaminante, oocisto, que será liberado através de suas fezes por até duas semanas.

Os oocistos para se tornarem infectantes têm que passar por uma transformação no meio ambiente que pode acontecer em até cinco dias. Logo, com a higiene diária da vasilha sanitária do gato, não há tempo hábil para que o parasita torne-se infectante. Este processo acontece apenas uma vez durante a vida do gato, sendo este o único momento que será o transmissor da toxoplasmose.

O felino, na maioria das vezes, não apresenta sintomatologia clínica da toxoplasmose. Entretanto, pode ocorrer diarréia autolimitante e alterações tanto neurológicas quanto oftalmológicas. Também, se durante a gestação a gata contaminar - se, abortos espontâneos e doenças congênitas podem acontecer.

As pessoas com sistema imunológico sadio raramente apresentam sintomatologia clínica. Entretanto, pode ser fatal em pessoas imunossuprimidas. Mulheres que se contaminarem durante a gestação podem ter algumas manifestações clínicas como alterações no desenvolvimento fetal e aborto. Os sintomas variam de acordo com o período de gestação.

A maior forma de disseminação da toxoplasmose se dá através da ingestão de alimentos crus mal lavados (que estiveram em ambiente contaminado pelo parasita) e da carne mal cozida, pois o cozimento inadequado da carne, principalmente de suíno e caprino, não matará o parasita.

A água também pode estar contaminada. Portanto, a vasilha sanitária do felino deve ser limpa diariamente e as pessoas susceptíveis devem evitar este procedimento, mas se o fizerem, que luvas sejam utilizadas.

E os alimentos crus devem ser consumidos bem lavados e a carne bem cozida.

Dra. Alessandra Amarante Smith MaiaMédica Veterinária
Pós-Graduada em Clínica Médica de Felinos
www.osbichanos.com.br
alessandra@osbichanos.com.br



DESMISTIFICANDO A TOXOPLASMOSE

Por Sofia Marques, médica veterinária
"Parabéns: você está grávida de 2 meses! Só tem um senão: você não está imune à toxoplasmose e se quiser ter uma gravidez bem sucedida deve desfazer-se do seu cão e do seu gato"
Certamente que estas palavras infelizmente tão repetidas nos consultórios médicos já foram ouvidas por centenas de mulheres cujo coração ficou dividido entre o bem estar do filho tão desejado e o dos seus queridos animais de estimação.

Há motivos para tanta preocupação? Deve a mulher grávida automaticamente dar o seu cão ou gato quando engravida? Devemos acreditar em tudo o que lemos especialmente na imprensa destinada às leitoras do sexo feminino?
É incrível que às portas do 3º milénio tantos médicos e auxiliares de saúde estejam tão mal informados acerca da gravidez e dos gatos. Vamos aqui desmistificar isto de uma vez por todas e verificar que NÃO É NECESSÁRIO LIVRAR-SE DO GATO QUANDO ESTÁ GRÁVIDA, tal como a maioria dos médicos aconselha.

A toxoplasmose pode ocorrer em diversos mamíferos que ingiram carne crua, especialmente através da caça, e que por sua vez ingiram um dos estadios infectantes do protozoário chamado Toxoplasma gondii. Este parasita unicelular tem um ciclo de vida um pouco complicado. Sabe-se que tem de passar por um hospedeiro intermediário e por um definitivo, que é sempre o gato e APENAS O GATO, NÃO O CÃO! O toxoplasma só consegue produzir oocistos infectantes no intestino do gato. O cão não transmite toxoplasmose, coisa nenhuma. Que isto fique bem claro.

O ser humano serve portanto de hospedeiro intermediário. Nele o parasita enquista nos músculos ou outras partes do organismo. Mas esta infecção é geralmente assintomática. Muitas pessoas podem contrair toxoplasmose e não se aperceber disso, mas caso tenham sintomas estes podem ser febre baixa, dores musculares, aumento do volume dos gânglios linfáticos, perda de apetite e dores de garganta.

Uma vez exposto à doença, o ser humano desenvolve imunidade contra o parasita e raramente torna a adoecer com toxoplasmose. Isto é confirmado através de uma análise sanguínea a qual revelará que a pessoa é seropositiva em relação a esta doença. A mulher grávida seropositiva já teve a doença por isso já não há risco para o feto. Apenas grupos de risco tais como as pessoas que padecem de SIDA ou outra situação que deprima o seu sistema imunitário (pessoas que fizeram recentemente algum transplante), estão em risco de adoecer novamente e de maneira grave (pneumonias ou doenças neurológicas).

Mas o caso complica-se se a mulher grávida não é seropositiva quando engravida. Neste caso ela não deve contrair toxoplasmose pela 1ª vez durante os primeiros 3 meses de gravidez (após este período os riscos são significativamente menores). Apanhar toxoplasmose durante o 1º trimestre de gravidez equivale ao risco do bebé nascer com graves deformações neurológicas ou mesmo retardamento mental.

Já estamos a ver porque há tanto pânico... mas de alguma forma exagerado. Vamos ver porquê. Se a leitora possui um gato já há algum tempo que vive exclusivamente em casa, e que jamais come carne crua, você NÃO está em risco. De facto está cientificamente provado que manusear carne crua ou trabalhar em jardinagem sem luvas é mais arriscado do que fazer festas ao seu gato.

Os gatos contraem toxoplasmose por comerem carne crua ou caça (ratos, p ex.) que contenham algum dos 3 estadios infectantes deste parasita. Neste caso os gatos excretarão pelas fezes oocistos infectantes 3 a 10 dias após a ingestão de tecidos infectados. Esta excreção pode durar até 14 dias após a 1ª exposição do gato ao parasita. MAS APÓS ESSE PERÍODO É POUCO PROVÁVEL QUE O GATO EXCRETE DE NOVO, pois tal como os humanos, o gato desenvolve imunidade contra o toxoplasma. Os oocistos excretados nas fezes transformam-se em infectantes apenas1 a 4 dias após a excreção e podem permanecer assim no meio ambiente por vários meses. Se você eliminar as fezes do gato diariamente da caixa de areia, especialmente se usar luvas, bem vê que o risco de contrair toxoplasmose é mínimo!

Normalmente os felinos não exibem sintomas de toxoplasmose. Todavia os gatos infectados e que inadvertidamente contraem alguma doença imunossupressora (FIV ou FELV) podem adoecer gravemente com sintomas variados: letargia, depressão, febre, diarreia, pneumonia, hepatite, uveite (inflamação ocular grave) ou mesmo doenças neurológicas.

Existem muitas maneiras de minimizar o risco de contrair toxoplasmose. Cozinhe muito bem a carne pelo menos 15 a 20 m antes de a consumir. Tanto as carnes de vaca como o porco e o borrego podem transmitir a doença se consumidas cruas ou mal cozinhadas. O leite não pasteurizado de vaca, cabra ou ovelha também pode conter oocistos. Mantenha o seu gato exclusivamente em casa, não permita que ele consuma o que caça nem lhe forneça carne crua. Alimente-o com rações comerciais apropriadas.

Alguns médicos aconselham as grávidas a testar o seu gato para ver se é seropositivo ou não. Acho contraproducente até porque se der positivo, o gato pode já estar imune à doença, e já nem estar na fase de eliminação dos oocistos. Ou seja: pode já ter apanhado a doença há anos e agora já não constituir perigo nenhum. A má interpretação do teste pode condenar um gato que a priori pode não constituir perigo nenhum... Se o teste dá negativo, então melhor ainda! Não dê nada cru ao seu gato e não se preocupe mais com o assunto. O que interessa no fim de tudo é se a mulher grávida é imune ou não. Se não é, deve ser um pouco cuidadosa no primeiro trimestre de gravidez. Aliás, convenhamos: se você possui um gato há anos e ainda não está imune ao toxoplasma, não vai ser agora por azar que vai apanhar a doença só porque está grávida!

O mais provável é que o seu gato não lhe transmita mesmo a doença. E ainda mais: normalmente as mulheres descobrem que estão grávidas no 2º mês de gravidez. Se já passaram 2 meses de risco sem ter cuidados, porque entrar em pânico com o seu bichaninho se já só falta mais um mês de alto risco para o feto? Muitas pessoas não se apercebem deste facto...

A toxoplasmose não é o único perigo que as grávidas têm de enfrentar. Se houver boa higiene, e consumo de carne apenas bem cozinhada, a maioria dos problemas serão evitados. A toxoplasmose não é nenhuma novidade e as mulheres grávidas não devem temer possuir gatos. A companhia e a devoção que os felinos nos dedicam ultrapassa em muito o risco de nos expormos a doenças. Todavia se restam algumas dúvidas não hesite em contactar-nos ou o médico veterinário do seu companheiro felino! Estime-o, não o abandone!


6 MANEIRAS DE EVITAR CONTRAIR TOXOPLASMOSE
1 Use luvas de borracha e lave bem as suas mãos após fazer jardinagem. A forma infectante do parasita pode viver por longos períodos de tempo na sujidade e areia onde os gatos defecam

2 Calce umas luvas e lave e esvazie a caixa do areião do gato diariamente para os oocistos não terem a oportunidade de se tornarem infectantes

3 Consuma carne sempre bem cozinhada, nunca em "sangue" e lave muito bem as suas mão após manipular carne e vegetais crús.

4 Beba leite pasteurizado, nunca cru

5 Verifique através de análise sanguínea se é seropositiva ou não. Se der positivo, então não tem nada que se preocupar

6 Lave bem as mãos após contactar com qualquer gato



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