sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Amorosamente juntos



por Radha Burnier
Diversos jornais publicaram uma informação sobre o “Jardim do Éden” descoberto na nova Guiné, onde uma surpreendente quantidade de animais considerados extintos ainda vive em áreas montanhosas cobertas pela selva.
Esta não é uma parcela sensacional de notícias vindas de jornalistas; é o relato de uma equipe de especialistas que estudou a região e encontrou cerca de quarenta novas espécies, e se espera identificar outras tantas. Um dos cientistas, citado num artigo de jornal disse: É um exemplo do que toda Nova Guiné foi há cinqüenta mil anos, quando não havia caçadores, nem impacto de derrubada de árvores, nem profanação ambiental. Há muito poucos lugares na Terra em que houve tão pouca intervenção humana.”
Outro pesquisador declarou: “Está tão próximo ao Jardim do Éden quanto você pode encontrar na Terra”.
A população humana nesta área úmida e quente é muito pequena e ninguém interferiu com esta área florestal primitiva do país. Isso foi evidente pelo fato de que muitos animais não tinham medo dos cientistas que os estudavam: “Dois eqüinos de bico longo, um mamífero primitivo que põe ovos, permitiram que os cientistas os pegassem e os levassem ao seu acampamento para estudo.”
Que emoção deve ter sido achar esse tesouro da Natureza, e que desastre seria se a publicidade atrair pessoas gananciosas a esse maravilhoso refúgio das criaturas de Deus. Em Bornéu, que como a Nova Guiné, é parte do arquipélago indonésio, de acordo com ambientalistas, onde semelhantes florestas intocadas estão sendo derrubadas para abrigar futuras plantações de palmeiras, muitas espécies descobertas recentemente serão destruídas.
Quando a Dra. Annie Besant falou sobre “O Lugar e Função do Homem na Natureza” (veja Wake Up Índia, número 1997-98), referiu-se ao lugar e função do homem na Natureza como eles são e como deveriam ser diferentes.
Ela acreditava que os homens, por terem evolução mais avançada, seriam responsáveis por criaturas menos evoluídas, naturalmente coerentes com a perspectiva de uma meta espiritual definida. “Sob a direta orientação dos Mestres, o homem deveria encarregar-se da evolução inferior do planeta. Ele seria uma espécie de diretor ou superintendente da Hierarquia Espiritual do mundo.”
Quer o leitor aceite ou não a opinião da Dra. Besant, devemos estar atentos para o fato de que homem não tem sido uma espécie de irmão mais velho para as formas menos evoluídas da criação, mas mostrou uma tendência para usar animais, plantas e tudo na Terra em seu próprio benefício, ignorando as necessidades delas, seu desenvolvimento e o equilíbrio da Natureza.
Recentemente na Nova Guiné se comprovou que os animais são de modo natural inocentes, confiantes, afeiçoados e prestativos. Muitos cães mostram estas qualidades, mas os seres humanos descobriram meios para incultar outras características em algumas raças de cães, e em outros animais, tornando-os diferentes: desconfiados, ferozes e inimigos do homem.
Diz a Dra. Annie Besant: “Parece que o homem não conseguiu imprimir o último toque de brutalidade nos animais selvagens. O animal selvagem não caça a menos que esteja faminto... É curioso que o gosto de matar por diversão cresce com a chamada civilização; e o selvagem mais primitivo, caça apenas buscando alimento”.
O hábito do homem de considerar inferiores os animais e maltratá-los pode ser comprovado em todo mundo: “Tudo que deveria ter afeto por nós, foge de nós; todas as coisas das florestas, dos campos e das selvas fogem ante os passos do homem. Falam de certos lugares no mundo onde isso não acontece; marinheiros dizem que visitaram terras onde animais inocentes, curiosos e sem medo se acercavam deles”.
Cerca de cem anos após a Dra. Annie Besant ter dito estas palavras, esta terra virgem, onde os animais vivem sem medo ou ferocidade excessiva – a ferocidade naturalmente surge do medo – se encontrou na Nova Guiné, que em si mesmo é algo do paraíso.
Os animais não apenas estão prontos para serem amigos do homem, a despeito da crueldade com que são tratados em todo mundo, mas também naturalmente mostram desejos de serem úteis.
Recentemente o jornal San Francisco Chronicle (15/12/2005) informou que uma baleia que ficara presa numa rede de armadilhas e linhas ferira todo o seu corpo enquanto se debatia para manter-se flutuando. Vendo isso um pescador comunicou-se com um grupo ambiental que trouxe um grupo de resgate. A única maneira de salvá-la era mergulhar para desembaraçá-la das cordas que a envolvia, o que levou algumas horas e era perigoso para os que a soltavam. Quando ficou livre, os mergulhadores disseram que ela nadou graciosamente em círculos e veio a cada um dos mergulhadores, um de cada vez, e os cutucou, empurrando-os gentilmente – agradecendo-lhes! Alguns disseram que esta foi a experiência mais incrível e bela de suas vidas.
Muitos exemplos menos dramáticos se podem oferecer a respeito de animais que demonstram apreço, fidelidade e outras qualidades comoventes em suas relações com seres humanos, muitas vezes insensíveis e ingratos. À luz do conhecimento moderno, os seres humanos não deveriam reconsiderar suas relação com as criaturas “inferiores” – animais e plantas?
Na palestra mencionada acima, a Dra. Besant também faz referência aos homens santos que são amados e aceitos por todos os seres vivos. Dentre estes, São Francisco de Assis e iogues indianos que andam despreocupados em florestas cheias de tigres e cobras.
Muito mais recentemente, monges do Templo do Tigre na província de Kanchanaburi, na Tailândia, que adotaram dezesseis filhotes de tigres que haviam perdido suas mães. The Hindu, um dos maiores jornais da Índia, publicou em 19 de abril de 2006, um bela foto de um carinhoso monge abraçando dois tigres adultos enquanto olhava um terceiro. Eles vivem em paz e harmonia, o que na verdade deveria marcar todos os nossos relacionamentos.


Há também muitos exemplos que nos chegam pela imprensa de animais que ajudam ou resgatam membros de outras espécies. Um relato é sobre um filhote de hipopótamo arrastado pelo tsunami, de um rio em Keni para o oceano e jogado na praia pelas ondas gigantescas. Ele foi encontrado muito desidratado “chamando pela mãe”. Guardas florestais o levaram para o Haller Park, em Mombasa, onde foi adotado por uma tartaruga gigante chamada em swahili (linguagem local) de “Homem Velho”. O pequeno hipopótamo ao ser solto no cercado, se arrastou para a tartaruga e a dupla tornou-se inseparável.
Um dos ecologistas do parque disse à agência Reutters: “Depois que foi arrastado e perdeu sua mãe, o bichinho ficou traumatizado e teve que buscar alguém para ser sua mãe substituta. Felizmente ele escolheu a tartaruga e se entenderam muito bem. Nadam, comem e dormem juntos”.

Estas ligações existem até entre cães e gatos, proverbialmente considerados inimigos.

Outra notícia da Tailândia é sobre o relacionamento de um gatinho e um macaco que se comportam como mãe e filho. Eles vivem num templo ao norte de Bangkok onde macacos e gatos são aceitos e alimentados por monges e visitantes do templo. Este tipo de amizade é comum, mas geralmente não estamos prontos para ampliar nosso círculo de afinidades demonstrando boa-vontade e afeição por pessoas e espécies diferentes de nós.

Façamos um esforço para compreender que nós, os seres humanos, somos parte de uma vida maior que inclui animais, plantas e até minerais. Desta maneira chegará o dia em que, como diz a Bíblia:
“O lobo e o carneiro se alimentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e o pó deverá ser o alimento da serpente. Eles não ferirão nem destruirão em toda minha sagrada montanha, disse o Senhor”. (Is. 65:25)
Radha Burnier, presidenta internacional da Sociedade Teosófica em Adyar.
(Extraído da Revista TheoSophia, ab-mai-jun/2006)
Fonte: http://horacosmica.blogspot.com

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